Friday, February 16, 2007

Last Adventures In DEB - Part 3

Bem vou-vos desiludir novamente, não houve problemas na Biológica, o fermentador foi esvaziado, sem que ocorressem problemas, os odores confinados aos recipientes não demonstraram o seu verdadeiro poder de exercer perda de apetite. Nem mesmo quando o fermentador foi lavado à mangueirada (não sei se foi por ter a ajuda da Ana, mas achei este fermentador mais fácil de lavar do que o meu!).
Porém as migalhas de descontentamento que espalhei foi dentro de casa, no meu próprio departamento, tornando a sala de centrifugas num autêntico pérfido esgoto, de uma grande metrópole que não é banhada pela chuva há demasiado tempo, onde apenas faltavam os pequenos ratitos a saltitar alegremente fazendo soar um fofo som metálico das suas unhitas contra as tubagens de metal. Sim, porque o cheiro estava lá em toda a sua glória!
Mas pronto, hoje terminaram as baldadas centrifugadas, chega de cheiro a shit que tanta gente incomodou, para elas o meu grande bem haja pela sua coragem!
Mas agora vem a fun part porque quando as células são arrebentadas cheiram ainda prior! Ah pois é! Quem quiser experimentar novas fragrâncias, que fazem revolver o estômago please do came!

Wednesday, February 14, 2007

Ohhhh... Não houve estrilhos! - "Brave" Adventures in DEB - Part 2

Pois é, hoje não houve quaisquer percalços, por isso não vos vou prendar com notícias castiças. Mas posso-vos adiantar que amanhã haverá festa, pois será realizada a recolha das células, e é certo que me vão prendar com um apedrejamento ou algo mais bucólico que nem eu sei neste momento descortinar, mas seja lá o que for, mesmo que envolva maçaricos, eu irei partilhar convosco.

Mas pronto, não há nada como partilhar boas notícias, e eis a minha proteína num passo intermédio de purificação, nem é necessário assinalá-la pois a bandona fala por si!

Tuesday, February 13, 2007

As Aventuras no DEB - Part 1

Aqui começa mais uma bela aventura deste vosso companheiro, que atingiu proporções inimagináveis para a sua pessoa!
O meio que estou a usar, descrito na literatura, possui uma grande quantidade de Triptona e de Yeast Extract, e é bem verdade que cada vez que é autoclavado sai com um cheiro característico, que como é óbvio é mais acentuado consoante a sua volumetria. No meu piqueno fermentas, cada vez que ligava o caudal de ar era certo que enchia o laboratório desta fragrância, que sinceramente desde o primeiro dia, apesar de o reconhecer como não sendo a rosas, não me afectava muito. O que realmente me afectava, e afecta, é quando se atinge uma concentração elevada de E. coli, em que mal se chega ao laboratório de manhãzinha, com as portinhas ainda todas fechadinhas, e se esbarrra contra uma muralha de cheiro a shit! Sim meus amigos, não há margens para rodeios, cheira mesmo a shit, isto apesar do meu chefe ter arranjado um belo eufemismo: "cheira a esgoto". Mas eu não gosto disso, gosto de por as coisas como elas são, cheira a shit! E não é pouco!
Pois bem está feita a introdução para uma das minhas aventuras de hoje. No DEB, onde fui bem recebido (ao inicio) e desde já deixo os meus agradecimentos, fui realizar a fermentação de 50 l. Tudo bem, correu tudo bem, a esterilização foi realizada in situ recorrendo a vapor, mas isso também não vos interessa, o que interessa foi quando chegamos à fase de ligar a entrada de ar.
Atenção eu sei que sou doido mas isto é verídico, quando isto aconteceu, fiquei com a sensação que estava tudo a acontecer em câmara lenta, e de forma extremamente confusa. Imaginem isto, ponham-se no meu lugar:
Imediatamente ao meu lado estão três pessoas, o fermentador está num buraco com cerca de um metro e meio no chão, dentro do resto do laboratório, que diga-se de passagem é enorme, estão pelo menos mais 5 pessoas.
Mal a Ana liga o ar pareceu-me que toda a gente entrou subitamente em pânico! Havia gente a gritar, as pessoas ao meu lado estavam a reclamar a tapar o nariz com as batas e com os olhos carregados de repugnância e eu, sem perceber nada do que se passava e sem saber o que responder às imensas perguntas que me lançavam, timidamente de mãos enfiadas completamente impávido e sereno, pois nada me estava a afectar minimamente:
"Tu queres nos matar?!"
"Que cheiro é este!?"
"Ai que o meu almoço já estava quase a vir!?"
"Que horror!"
"Meu deus!"
"Isto é normal!?"
A única forma de explicar como me senti, foi, e perdoem-me a comparação menos simpática, era como se estivesse a assistir a um assassínio em massa, onde só eu não ouvia os tiros, nem compreendia minimamente porque razão as pessoas estavam a morrer.
Passados alguns segundos, que a mim me pareceu uma eternidade, apercebi-me do cheiro, e foi do tipo:
"Ah o cheiro! - continuando calmamente, sempre solícito para informar as pessoas - Isto é o cheiro típico do meio." Ao qual fui de imediato inquirido:
"Isto é o cheiro do meio! Não pode ser! Então não correu nada mal?! Está tudo bem?!"
Eu respondi com sinceridade: "Sim, está tudo bem"
Vejo a desilusão estampada no rosto...
Então tentei (diga-se que sem qualquer sucesso) animizar as coisas: "Ah, mas este cheiro não é nada... Quando inocular então aí é que vai ser uma desgraça! Preparem-se para o pior!"
"Mas é pior do que isto!?"
"Ui muito pior!"
Oiço uma onda de reclamações que não consegui decifrar...
Bem depois de alguns esclarecimentos, chegamos à conclusão que era necessário mais ácido para controlar o pH, lá fui eu todo lançado para chatear o Carlinhos (Carlos eu sei que nunca na vida vais ler isto, tu e toda a gente, mas um bem haja para ti!). Quando saio do buraco, já a pensar que estava tudo bem, olho para a porta, que estava apinhada de gente com lenços na boca, a tentar desesperadamente to catch some fresh air e a olhar para mim com uns olhos de profundo e mais puro ódio! Havia instintos assassinos ancestrais naqueles olhares! Estava já a ver-me tal qual teenage witch Sabrina (atenção lê-se: Sabraina) com um mólhico de madeira por debaixo a alegremente a arder, e não duvido nem por um segundo que todos ali ajudavam o fogo a realizar a sua acção purificadora na minha pessoa! Fui para o meu Departamento, para me despedir da minha casa, e voltei. À chegada reparei numa coisa castiça, a 3 metros antes de chegar à porta do DEB já cheirava ao meio, que foi definido como por um dos intervenientes como: "coirato de porco queimado", e não pôde deixar de sorrir, pois as coisas estavam mesmo más, mal entro o sorriso é prontamente esbofeteado por uma investigadora que acrescentou ao olhar assassino, o olhar de esguelha! Que torna as coisas muito mais sinistras!
Entro desalentado e com o rabinho entre as pernas, pronto a ser desventrado a qualquer passo em falso. Obviamente sou abordado: "Isto não pode ser assim, porque assim não conseguimos trabalhar, etc, etc... Olha tu não podes fazer a fermentação durante o fim de semana, etc, etc..."
De facto tive que admitir que aquela escala o cheiro estava bastante potenciado, e comecei a ter mesmo muito receio do que aconteceria quando se atingisse uma alta densidade celular... Aí sim, seria muito difícil de trabalhar. Mas alguém lá se lembrou de ligar uma linha à saída de ar até à hotte, espero sinceramente que funcione. Mas depois, I will report. Se não o fizer, é porque fui linchado em praça pública.
Já devem estar fartinhos de ler (isto se alguém estiver a ler) por isso acabo com a frase bem verdadeira: "deus castiga", ou até mesmo uma que eu adoro "cada um tem o que merece": uma das linhas de água do condensador, de alta pressão já agora, soltou-se... Por duas vezes! Estive a fazer rodeio lá com aquilo, mas é obvio que tomei um real banho!
Mas de resto...
Já chega não já? Hoje muito treteiro estou...

Saturday, February 10, 2007

50 litros de... cheirinho!

"Cheira a rosas senhor!"

Esta é sempre a expressão ideal a aplicar, furtada com mimos a uma cândida donzela, para referir o tópico dominante do meu trabalho neste momento. Por ordens da minha suprema chefe, tinha de conseguir por meus de artes mágicas ou outras ciências ocultas produzir 50 l de cultura de E. coli com o nosso belo polímero lá dentro. Assim comecei por fazer 8 l, 6 l, 4 l, 2 l, 2 l (entre virgulas corresponde a um dia), não consegui fazer mais por questões meramente logísticas, assim em 5 dias úteis fermentei 22 l, menos de metade. Mas seja como for, foram quantidades suficientes para espalhar um agradável aroma pelo laboratório, pela sala de centrifugas, pelos corredores, e por onde quer que as pessoas de nariz mais apurado quisessem comentar, e garanto-vos que não foram poucos. Nestes dias pensei que mesmo que se tomasse banho várias vezes ao dia, os comentários não iam parar.
Mas eis que chega a cavalaria!
Vou fazer uma fermentação de 50 l, num fermentador de 70 l no Departamento de Engenharia Biológica, tenho de confessar que esperava um bicho com um tamanho mais imponente, mas visto que este está num grande buraco no chão, quando lá descer talvez a minha visão das coisas mude de forma radical.
Agora, quando me lembro das centrifugações aparentemente intermináveis dotadas da leve fragrância desta bela bicha quando são poucos litros, imaginemos quando serão os 50 l! Acho que vou passar 24 h seguidas a centrifugar num verdadeiro ambiente de puro fresh air! Há sempre um lado positivo para tudo, no final ficarei completamente habilitado a nível aromático para enfrentar as mais oudases limpezas dos mais imundos locais públicos de defecção!
Mas há um ponto muito mais importante, estamos a produzir proteína! Ficou a liofilizar over weekend, mal tire uma foto à amostra sólida coloco-a aqui para a partilhar convosco! Que me dizem?

Das parfum...